A greve dos trabalhadores do SANEP está, hoje, no seu
sexagésimo dia e a intransigência do Prefeito Eduardo Leite continua subjugando
os servidores e mantendo os bairros da periferia sem atendimento,
principalmente no que se refere às desobstruções de esgoto.
Ao que parece, o Prefeito espera o resultado do julgamento
do agravo de instrumento impetrado no Tribunal de Justiça do RS, que definirá
se a liminar que mandava pagar os dias parados será cassada definitivamente ou
se os trabalhadores obterão vitória, tendo reconhecido o seu direito de greve.
Enquanto isso, a população espera.
Disse, o Presidente da Câmara de Vereadores, Ademar Ornel,
na tribuna em 09/07:
“O prefeito não tem o direito de dizer que não quer dialogar.
Se sou gestor, sou pago para dialogar, porque o patrão é a comunidade, que quer
que as partes se entendam”.
Os trabalhadores têm sido prejudicados de todas as formas,
sem salário, sem vale alimentação, sem as férias que já haviam sido autorizadas
e sem a chance de fazer empréstimo consignado, para tentar salvar a sua
situação nesses dias.
Como sempre, se exige e se constrange o lado mais fraco a
ceder. Os trabalhadores já propuseram, em assembleia, a flexibilização das
negociações e isso foi encaminhado em ofício à Direção do SANEP no dia 12 de
junho. A decisão de não negociar com trabalhadores em greve é uma decisão
arbitrária, que vai contra as promessas de campanha do Prefeito, que proferiu
em um debate as seguintes palavras:
“Nós vamos, sim, sentar com os sindicatos dos servidores,
estabelecer melhorias continuadas e uma nova perspectiva pro funcionalismo.”
Palavras ao vento, em campanha eleitoral, como prática da
velha política à qual se assemelha o proceder deste jovem prefeito, que não só
prometeu uma Pelotas de “cara nova”, mas, também, prometeu na assembleia do
SIMSAPEL, em 2013, uma condição salarial melhor a partir de 2014, com estas
palavras:
“Agora, eu já antecipei ao Sindicato na reunião que tivemos
semana passada e reafirmo aqui, diante de vocês, nós queremos estabelecer uma
política salarial para o SANEP onde os ganhos da Autarquia, especialmente
aqueles que se referem à questão da própria arrecadação, sejam partilhados com
os servidores. Ou posso dizer para vocês que no ano que vem nós vamos discutir
em cima da inflação e do que a Autarquia tiver efetivamente melhorado em
arrecadação para poder repassar aos servidores, ou seja, sem levar em conta a
associação com a Prefeitura, com a Administração Direta, porque é um gasto
especial da Autarquia e nós compreendemos que
isso possa ser feito.”
Nada disso está sendo feito, nada disso está sendo cumprido.
O Prefeito Eduardo Leite esquece as próprias palavras e nega a oportunidade de
negociação aos trabalhadores. Alega que não foi procurado pelo Sindicato antes
da greve. O SANEP é uma autarquia. Portanto tem autonomia para negociar os
reajustes dos seus servidores. Quando ficou claro que não haveria avanços por
parte da Direção do SANEP, o SIMSAPEL encaminhou ofício ao Prefeito Eduardo
Leite solicitando uma reunião. A resposta foi outro ofício em tom ameaçador,
negando a oportunidade de diálogo.
As
tentativas de mediação
Houve várias tentativas de intermediação por parte da
Federação dos Municipários do RioGrande
do Sul – FEMERGS, que indicavam a possibilidade de melhoria do índice oferecido.
Porém, a Prefeitura manteve a porta fechada.
A Câmara de Vereadores buscou, também, intermediar o
processo, sem sucesso. Em reunião com o Prefeito, no dia 7 de julho, ouviram
uma proposta que não apresentou nenhuma melhoria nos índices, apenas o
pagamento dos dias parados a serem descontados parceladamente. Essa proposta
não foi apresentada oficialmente à Diretoria do Sindicato.
No dia seguinte, os edis presenciaram um espetáculo grotesco
em que o Superintendente Administrativo, Nede Lande Santana se portou de forma
autoritária, não permitindo que a Comissão de Negociação dos Trabalhadores
permanecesse completa na sala. Foi permitida apenas a presença do Presidente e
da Vice do SIMSAPEL, que continuaram na reunião, para manter oportunidade de
negociação de que dependia toda a Categoria. Mesmo assim, manifestaram seu
protesto. A reunião seguiu com uma postura desrespeitosa, irônica e
intransigente por parte do Superintendente, não só com a Direção do Sindicato,
mas com os vereadores e jornalistas presentes. Mais uma vez, os números
apresentados não convenceram os trabalhadores, que estão cansados de arcarem
com os reflexos dos erros de gestão e do sucateamento da Autarquia.
Também houve a tentativa de abertura das negociações, por
parte do SINDISPREV-RS - Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde,
Trabalho e Previdência do RS – das Delegacias de Pelotas e Rio Grande, e da FENASPS
– Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e
Assistência Social, cujos diretores vieram de Porto Alegre. Houve uma conversa
com o Superintendente Nede Santana, em que os dirigentes sindicais solicitaram
uma reunião com o SIMSAPEL e o Diretor Jacques Reydams, que não aconteceu até
agora.
As
dificuldades dos trabalhadores em greve e a solidariedade
Enquanto o Prefeito Eduardo Leite se mantém em sua posição
autoritária, os trabalhadores enfrentam muitas dificuldades, por estarem sem
salário e sem vale alimentação.
Estão sendo distribuídas cestas básicas, a partir de doações
de pessoas da população, de trabalhadores do SANEP que não fizeram greve e, até
mesmo, de trabalhadores grevistas que não tiveram os salários cortados na
totalidade ou que têm outra fonte de renda. Vários sindicatos, federações e
centrais sindicais têm feito vultosas doações, sinalizando a unidade dos
trabalhadores, não só de Pelotas e Região, mas do Estado e do País.
Uma alternativa encontrada para ajudar a recompor a condição
de subsistência dos servidores é uma ação entre amigos, que sorteará uma
motocicleta doada anonimamente ao movimento.
O poder
O que se verifica, hoje, é o sacrifício dos trabalhadores
que lutam por salários dignos, por uma Autarquia saudável e por condições de
trabalho condizentes com a importância e a responsabilidade que reside em se
oferecer água e saneamento de qualidade para a população pelotense. O que se
verifica é o esmagamento da parte mais fraca. O que se verifica é o
aniquilamento de quem constroi o SANEP
há quase cinco décadas, o que se verifica é a atuação desastrosa de gestores
que ”estão” no poder e não respeitam essa história.
É preciso que fique claro que o impasse se mantém por conta
do autoritarismo do Prefeito. Esse que foi eleito para assumir
responsabilidades e encaminhar soluções para os problemas e que não honra essa
confiança que o povo lhe dedicou.
A população necessita dos serviços.
Os trabalhadores querem trabalhar.
Só depende do Prefeito Eduardo Leite.
Então, Eduardo, vamos negociar?!
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